Educar para uma vida plena

alex_07anos

“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.”

Trecho de Tabacaria, Álvaro Campos.

Toda vida tem um porque.

Nascemos com um propósito, seja biológico de perpetuação e desenvolvimento da espécie e da vida na Terra, seja transcendental: somos capazes de sonhar para além da rotina e do cotidiano banal, e através da transcendência criar possibilidades de esbarrarmos no Divino, essência da nossa existência, para além do físico mensurável; espaço de todas as potencialidades, onde os sonhos se tornam tangíveis, onde potenciais de beleza e perfeição ainda não experimentados são percebidos.

Mas vivendo entre as grades de uma forte cultura que nos empurra o tempo inteiro para o sucesso financeiro e para a busca por ser o melhor, vamos nos distanciando dos nossos verdadeiros anseios, da voz do nosso coração e da possibilidade de transcender.

Paramos de ouvir nossa própria voz. Assim nos afastamos de nossa verdade interior, de nossa essência, de nossos talentos naturais, para sobreviver, para não frustrar as expectativas de mães e de pais, dos amigos, da mídia, dos mestres, dos outros; então nós entristecemos; nossa autoestima fica rebaixada; passamos a sofrer de ansiedade crônica; perdemos o prazer de viver; podemos ficar rudes, amargos, áridos e ranzinzas, murchamos, e a beleza do viver se esvai.

Todos têm o direito de viver não apenas para a sobrevivência, mas também para a transcendência.

Isso vale para nossos filhos.

Como pais e mães é preciso dar um passo além do que já foi dado em nossa sociedade no que concerne à formação e educação de nossos filhos e de nossas filhas.

Educa-los para que sobrevivam, procriem e ganhem dinheiro, é muito pouco. Exemplos típicos disso é a família que tem seu foco numa educação voltada para as necessidades pontuais da sociedade, o básico: comportamento aceitável, boa escola, comida, vestibular, passeios, boa faculdade, educação sexual, investir em joguinhos, roupas, tênis e algum esporte, para que se torne um adulto de sucesso.

A educação atual, infelizmente voltada apenas para a sobrevivência do ser humano na sociedade, estimula instintos típicos dessa luta, e tem como consequência apresentado um efeito colateral indesejável: a agressividade, a deslealdade, a inveja, a corrupção, a preguiça, a competitividade desmedida, a mesquinharia, a manipulação, as falcatruas, depressão, ansiedade, níveis elevados de estresse, entre tantas outras adversidades com as quais lida nossa sociedade.

Ir para além do básico é educar para a sensibilidade, para a arte, para o cuidado com o que é frágil (ecologia, sustentabilidade, animais, crianças, etc..), ensinar e compartilhar valores espirituais, valores éticos e amorosidade na convivência, sem o intuito de despejar conceitos, mas sim de despertar beleza interior em nosso filho ou filha.

Beleza que será o terreno fértil para todas as aquisições futuras da personalidade em desenvolvimento.

Daremos um salto como civilização quando atuarmos junto às crianças criando um espaço familiar ou escolar de convivência onde se sintam amadas e seguras pelo que são, para mostrarem o seu melhor, desenvolverem sua curiosidade, explorarem sua “arte” e sua fé, onde sejam oferecidos limites e respeito, amorosidade e sinceridade, atenção e cumplicidade, espaço para a fantasia e a imaginação, para o lazer e o estudo, não apenas o curricular da escola.

Criando condições de que ouçam a voz de seus corações para viverem com um sentido claro da importância de suas existências, e preencherem seus dias de contentamento e entusiasmo, semeando alegria e esperança para si e na vida dos que os rodeiam também.

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