As palmadas ou a “pedagogia do tapa” surge no Brasil trazida pelos Jesuítas no século XVI (nos anos 1500) como expressão de amor, segundo a historiadora Mary Del Priore, no livro História das Crianças no Brasil .
É fácil de entender o porquê, a relação de pais e filhos era espelhada na relação com o Divino que segundo a Igreja Católica, da época, era uma relação de castigos e punições aos que andavam em erro.
Estávamos vivendo a época dramática da Inquisição.
Assim, o inicio da pedagogia Brasileira tem suas raízes nas lições judaico-cristãs, trazidas pelos Jesuítas ao país.
Já no século XVIII, Portugal, através do Marques de Pombal, insere as palmatórias como recurso disciplinador, e estas passam a ser usadas em escolas do Brasil.
Outra prática dessa época é o ajoelhar no milho. A ideia central era submeter, oprimir, humilhar, para obter obediência total ao adulto, à lei vigente, à Igreja.
Achava-se que a criança precisava de pulso, de palmadas, de castigos físicos, para “virar gente”.
É bom frisar que a infância só passa a ser mais valorizada no século XIX.
Sendo que os estudos mais aprofundados sobre o desenvolvimento infantil nascem com o aparecimento da psicologia, da pediatria e da neurologia.
A “pedagogia do tapa” correu os séculos, aqui em nosso pais, e virou um paradigma social: para educar um filho era autorizado e bem visto lançar mão do “psicotapa”, das humilhações públicas, ameaças de abandono ou punição física.
Ainda hoje vemos essa forma de educação moldada nestes preceitos da Inquisição dentro dos lares brasileiros.
E o que leva os pais do século XXI, que respiram a era da tecnologia e da ciência, a usarem modelos de educação do século XVI?
Autoritarismo é uma face. Tradição e hábito outra.
A falta de informação sobre o desenvolvimento infantil e sobre a inteligência social e a inteligência emocional, também contam.
Repetição de padrões aprendidos com pais e mães, sem um questionamento atual de maior profundidade.
Além disso, falta de autoconhecimento, de imaginação e baixa autoestima.
A lista de motivos é extensa, bem maior que esta acima.
Agora, quando um adulto bate em uma criança, independentemente dos motivos que tenha, há sempre raiva e irritabilidade por detrás de seu ato. O discurso pode até ser: “fiz isso para a criança aprender”, mas na realidade o que muitas vezes existe é: “eu não aguento mais essa criança” ou “eu não sei o que fazer para ela me obedecer” ou “ela vai me obedecer por bem ou por mal”.
De toda forma onde há pancadaria ou tapas não existe diálogo, há carência de paciência, conhecimento e tolerância, e falta, sem sombra de dúvida, o exercício de uma autoridade verdadeira.
A palmada surte seu efeito sim e Imediato: raiva, medo, insegurança, baixa autoestima, tristeza, vergonha, agressividade, depressão.
A criança pode até parar de fazer o que incomodava o adulto ao apanhar, ou não, mas os efeitos são sempre devastadores.
Educar dá trabalho. Requer amor e paciência, tolerância, disciplina, perseverança e pulso. Tudo envolvido em respeito àquele que ainda é frágil e dependente.
Da mesma forma que se estuda e prepara-se para o exercício de uma profissão, é necessário estudar a infância e o desenvolvimento infantil, além de buscar o seu próprio desenvolvimento emocional e espiritual, para serem pai e mãe eficientes na tarefa de auxiliar aos filhos a serem pessoas, desde a infância, que tenham uma boa autoestima, generosidade, valores éticos, autenticidade e criatividade atuante.
Assim, oxalá, a criança sentindo-se mais feliz e amada, tenha a possibilidade de contribuir para que o mundo seja melhor para ela e para todos os que com ela convivem.
Sugestão de leitura, o livro Suprema Covardia de Sandra Galeotti.